Investimentos Sustentáveis: Lucro com Propósito Social

Investimentos Sustentáveis: Lucro com Propósito Social

O mercado de investimentos sustentáveis no Brasil segue crescimento robusto e acelerado, impulsionado por investidores que buscam ganhos financeiros alinhados a valores sociais e ambientais. Em 2025, os fundos IS registraram avanços significativos no patrimônio líquido, enquanto o setor privado demonstra alto comprometimento em promover iniciativas verdes e regenerativas. Esta tendência revela que a conjugação de lucro e propósito pode gerar impacto positivo e retorno consistente, incentivando cada vez mais agentes a integrar critérios ESG em suas decisões de alocação de capital.

Contexto Geral e Tamanho do Mercado

O Brasil vem se destacando internacionalmente no cenário de finanças responsáveis. De janeiro a julho de 2025, os fundos de investimento sustentável alcançaram R$ 36,8 bilhões em patrimônio líquido, um avanço de 48,4% em comparação com dezembro de 2024 e de 89% em relação ao mesmo período de 2024. Além disso, os aportes nos fundos IS totalizaram R$ 10,6 bilhões apenas no primeiro semestre, demonstrando comprometimento do setor corporativo com práticas responsáveis.

Os investimentos privados em projetos sustentáveis atingiram R$ 48,2 bilhões em 2025, evidenciando uma linha clara de ação das empresas em direção à economia de baixo carbono e às inovações verdes. Esses números refletem não apenas cifras volumosas, mas um movimento coletivo em prol de um modelo de desenvolvimento capaz de equilibrar rentabilidade e bem-estar social.

Portfólio de Investimentos para Transformação Ecológica

O Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria de Política Econômica, identificou R$ 473 bilhões em projetos públicos e privados potencialmente sustentáveis no Brasil. Esse levantamento, divulgado em dezembro de 2025, mapeia 2.580 iniciativas que abrangem setores essenciais para a transição verde. A plataforma digital do Portfólio de Investimentos para a Transformação Ecológica detalha cada projeto, facilitando a conexão entre investidores e oportunidades com impacto socioambiental.

O relatório reforça que a consolidação desses projetos é fundamental para acelerar a transição energética, promover a infraestrutura resiliente e fomentar modelos de negócio regenerativos.

Distribuição por Setores

Distribuição Geográfica

O panorama regional revela concentrações expressivas de recursos em diferentes regiões do país, demonstrando vocações específicas e necessidades variadas:

  • Nordeste: R$ 240,5 bilhões (54,72% do total)
  • Sudeste: R$ 112,6 bilhões (25,61%) e maior número de projetos (927 iniciativas)
  • Norte: R$ 29 bilhões
  • Sul: R$ 28,7 bilhões
  • Centro-Oeste: R$ 20,8 bilhões

Dívida Sustentável

O mercado de dívidas sustentáveis no Brasil também apresenta robustez. Até junho de 2025, a dívida cumulativa VSS+ alcançou US$ 67,8 bilhões, dos quais 73% estão alinhados a critérios de sustentabilidade reconhecidos internacionalmente. A emissão de novos títulos VSS+ cresceu e atingiu 93% de alinhamento, superando os 88% do mesmo período em 2024 e consolidando o país como referência em finanças sustentáveis na região.

Com 152 emissores ativos, a preferência permanece por títulos em moeda local (51%), reforçando a confiança dos investidores na solidez econômica doméstica e no compromisso com projetos de longo prazo.

Tendências de Investimento Sustentável em 2025

O cenário global de finanças verdes segue em transformação, e várias tendências emergem com força no ano de 2025:

  • Tecnologias de armazenamento: baterias de sódio e hidrogênio verde atraem US$ 120 bilhões.
  • Gás natural como ponte: projetos que reduzem emissões na transição para baixo carbono.
  • Energia nuclear: expansão de ETFs temáticos em países como França e Japão, com alta de 45%.

Hidrogênio Verde no Brasil

O Brasil desponta como ator importante na cadeia global de hidrogênio verde. Empresas como a Fortescue planejam investimentos na ordem de R$ 17,5 bilhões para implantação de planta no Complexo de Pecém, no Ceará. Essa iniciativa reforça a posição brasileira como exportador de energia limpa e contribui para a transição de matriz energética.

Além de gerar empregos e fortalecer a indústria local, projetos de hidrogênio verde podem abrir novas frentes comerciais, especialmente para países que buscam reduzir a pegada de carbono em setores intensivos em energia.

Investimento de Impacto Baseado em Localização (PBII)

Os investimentos de impacto têm ganhado atenção por sua capacidade de gerar resultados mensuráveis em nível regional:

  • Habitação acessível: fundos municipais na Europa e EUA dedicam 15% a moradias sustentáveis.
  • Infraestrutura resiliente: rodovias e redes elétricas adaptadas a extremos climáticos.
  • PMEs verdes: linhas de crédito com taxas preferenciais para pequenas empresas certificadas ESG.

Blue Bonds e Finanças Oceânicas

Os Blue Bonds surgem como ferramenta inovadora para financiar a conservação de oceanos e gestão de recursos hídricos. Em 2025, esses títulos complementam os tradicionais Green Bonds, que movimentaram US$ 447 bilhões em 2024. A diversificação dos instrumentos financeiros sinaliza o amadurecimento do mercado, permitindo que investidores direcionem capital de forma mais segmentada e eficaz para desafios ambientais específicos.

Agtech e Agronegócio Regenerativo

A tecnologia agrícola e o agronegócio regenerativo se unem para transformar paradigmas de produção. Modelos de cultivo de baixo impacto, sistemas agroflorestais e soluções de precisão monitoram solos e plantas, reduzindo insumos e aumentando produtividade.

Espera-se que esse segmento atraia até US$ 157 bilhões em investimentos até 2050, impulsionando a economia verde e regenerativa e garantindo segurança alimentar e conservação ambiental.

Crescimento de Fundos Sustentáveis por Classe

Os Fundos de Investimento em Participações (FIPs) com foco ESG apresentaram crescimento de 246%, passando de R$ 666,5 milhões em julho de 2024 para R$ 2,3 bilhões em julho de 2025. Esses fundos, voltados para private equity e infraestrutura, destacam-se por apoiar projetos de longo prazo, capazes de gerar retornos consistentes e impacto social duradouro.

Desafios e Contexto Global

Apesar dos avanços, o mercado enfrenta desafios, como reações adversas em relação ao ESG nos EUA, que induzem investidores a adotar abordagem mais cautelosa. Para muitos, a prioridade recai sobre investidores priorizam retornos a longo prazo, mantendo perfil conservador em sustentabilidade para evitar riscos reputacionais e políticos.

A emissão de títulos sustentáveis também recuou 65% no Brasil e 25% globalmente no primeiro semestre de 2025, reflexo de instabilidades geopolíticas e incertezas econômicas.

Regulamentação e Implementação

Na Europa, 2025 marca a virada da elaboração regulatória para a implementação efetiva das normas CSRD e ISSB. Essas diretrizes elevam a qualidade das informações disponíveis, permitindo decisões de investimento mais embasadas e transparentes, além de alinhar empresas a práticas internacionais de sustentabilidade.

Perspectiva Positiva Global

Mesmo com os obstáculos, o ritmo de investimentos em energias limpas supera os aportes em combustíveis fósseis, especialmente em projetos solares fotovoltaicos. Políticas de apoio triplicaram nos países do G20 desde 2020, reforçando o compromisso global com a neutralidade de carbono e a transição justa para uma economia sustentável.

Iniciativas Estratégicas Brasileiras

O Plano de Transformação Ecológica Novo Brasil conecta políticas públicas e ferramentas estratégicas para promover a industrialização verde, inovação e inclusão social. Ao fomentar parcerias entre governo, setor privado e sociedade civil, o plano busca consolidar uma economia de baixo carbono, geradora de empregos verdes e pautada em justiça climática.

Para investidores, esse cenário oferece oportunidades únicas de alocar recursos em projetos que unem lucro com propósito social, contribuindo para um futuro mais equilibrado e resiliente.

Por Maryella Faratro

Maryella Faratro